segunda-feira, 7 de maio de 2012

Chupeta: necessário para o bebê ou para a família?

Olá queridos!!

Novamente estive um tempo afastada das atividades por conta de estudos e trabalho, mas com muitas saudades retomo as postagens do blog.

Hoje trago um assunto que é bastante polêmico e vem sendo tema de discussão em uma importante lista virtual sobre aleitamento materno da qual faço parte: CHUPETA.

A chupeta é um objeto antigo, tendo registros históricos desde o século XV. Sempre muito polêmica devido aos malefícios que causava, a chupeta ganhou força ao longo dos tempos, sendo vista como um objeto essencial no enxoval do bebê. Será?

Vamos pensar racionalmente sobre o uso da chupeta: em que momento a usamos? quando o bebê chora! Mas ai eu pergunto: POR QUE O BEBÊ CHORA?

O choro do bebê é uma forma de comunicação. Se ele chora algo o está incomodando: fome, frio, calor, carência, saudade da mãe, vontade de um colo, saudades do útero....na escala de comunicação do bebê o choro é o último patamar. Depois que ele já deu vários sinais do que deseja e não foi atendido, o choro vem como uma forma infalível de ter a atenção necessária. Mas quando ele chega ao choro está tão irritado e desorganizado que mesmo que você dê a ele o que ele precisa neste momento, não será suficiente para que ele se acalme de imediato, pois ele precisa de um tempo para se centrar e se reorganizar novamente.

A chupeta funciona como um "cala a boca" para o bebê, e um calmante para os pais....sei que quem lê este post deve pensar "quero ver se fosse com você e o bebê berrar na sua orelha o dia todo". Imagino e já presenciei o quanto é exaustivo o choro inconsolável do bebê, mas o melhor a fazer énão deixar que ele chegue nesta fase de choro inconsolável.

Mamães e papais, busquem aprender mais sobre os comportamentos dos bebês, façam cursos durante a gestação, e após o nascimento se conectem mais, estejam mais próximos e atentos. Lembrem-se que os primeiros três meses após o parto é um período de adaptação do bebê e que o choro é esperado. Adaptação ambiental, física, neurológica.....é uma fase de abnegação, de doação total, dedicação exclusiva 24hs. A chupeta não resolverá o problema deles, pelo contrário os deixará mais distantes dos seus bebês.

Amamentem exclusivamente e em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê solicitar, sem padrões de tempo de duração de mamada e de intervalos regulares, fixos. Usem sling para deixar os bebês mais próximos de vocês por mais tempo, e para que vocês tenham mais liberdade no dia-a-dia.

Para encerrar este post, deixo abaixo um texto escrito por Luciano Borges para o site da Sociedade Brasileira de Pediatria, sobre um resumo dos riscos do uso da chupeta.

Com carinho a todos!
Carol

Uso da chupeta
Departamento de Pediatria Ambulatorial e Departamento de Aleitamento Materno da SBP

A sucção é um reflexo do bebê desde o útero materno e pode ser observado através de ultrassonografias, que mostram alguns bebês chupando o dedinho. Esse reflexo é vital para o crescimento e desenvolvimento psíquico do bebê.
A criança, especialmente em seu primeiro ano de vida, tem uma necessidade fisiológica de sucção. Além da amamentação, que garante a sua sobrevivência, a sucção também promove a liberação de endorfina, um hormônio que produz um efeito de modulação da dor, do humor e da ansiedade, provocando uma sensação de prazer e bem-estar ao bebê.
A amamentação é suficiente para satisfazer o desejo básico de sucção do bebê, desde que ele esteja mamando exclusivamente no peito e a mãe o ofereça sempre que o bebê quiser. É importante enfatizar que a sucção do bebê ao mamar no seio materno é completamente diferente do sugar o bico de uma mamadeira ou chupeta. Mamar no peito é muito importante para o desenvolvimento da mandíbula e demais ossos da face, dos músculos da mastigação, da oclusão dentária e da respiração de forma adequada.

O uso da chupeta vem sendo passado de geração a geração, constituindo-se num frequente hábito cultural em nosso meio e, por seu preço reduzido, é bastante acessível a toda população.
Destacam-se como possíveis “prós” de sua utilização:

1 - trata-se de um calmante imediato do choro;
2 - alguns estudos evidenciaram possível efeito protetor contra morte súbita, desde que seja introduzida após a terceira semana de vida ou com a amamentação já estabelecida e utilizada apenas durante o sono (recomendação oficial da Academia Americana de Pediatria - AAP).
Por outro lado, temos muitos “contras” para comentar sobre a utilização da chupeta.

1 - Inúmeros estudos mostram que a chupeta está sempre associada com um tempo menor de duração do Aleitamento Materno e que a mesma acaba por ser um indicador de dificuldades da amamentação. Este fato acabou sendo decisivo para que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) optassem como recomendação oficial de não utilizar bicos e chupetas desde o nascimento, pois o tempo de duração do aleitamento materno influi diretamente na saúde do bebê e da mãe, quanto mais tempo amamentar, mais saúde para ambos. Esta orientação é compartilhada pelo Ministério da Saúde do Brasil que desde 1990 optou pela implantação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, que tem como regra (nono passo - o sucesso da amamentação) a não utilização de bicos, mamadeiras e chupetas em alojamento conjunto.
2 - Com relação a acalmar, temos uma linha de psicólogos que discordam desta forma de acalmar, pois temos inúmeras maneiras de acalmar um bebê (carinho, colo, cantar, amamentar, etc.) sem a necessidade de utilização de um artifício que traz malefícios para a saúde do bebê. Orientam ainda que quando uma criança começa a introduzir o dedo na boca, temos que dar uma função para as mãos, desta forma, entrega-se brinquedos adequados para a idade para que a distração seja direcionada em outro sentido. Claro que a criança poderá levar este brinquedo à boca (mordedores, por exemplo), mas isto não leva a vícios. Portanto não “vicia” em chupeta e nem no dedo.
3 - Outros estudos apresentam efeitos prejudiciais do uso da chupeta com relação à oclusão dentária, levando à deformação na arcada dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral, problemas na fala e emocionais. O risco de má oclusão dentária em crianças que utilizam chupetas pode chegar a duas vezes em relação aos que não usam.
4 - Temos ainda prejuízos respiratórios importantes, levando a uma expiração prolongada, reduzindo a saturação de oxigênio e a frequência respiratória. A respiração acaba ficando mais frequente pela boca (respiração oral), o que piora a elevação do palato (céu da boca), diminuindo o espaço aéreo dos seios da face e provocando desvio do septo nasal. A respiração oral leva à diminuição da produção da saliva, que pode aumentar o risco de cáries. Como a respiração nasal tem a função de aquecer, umidificar e purificar o ar inalado e isto não ocorre de forma adequada na respiração oral, temos maiores chances de irritações da orofaringe, laringe e pulmões, que passam a receber um ar frio, seco e não filtrado adequadamente.
5 - Outras consequências da respiração oral são: as infecções de ouvido, rinites e amigdalites.
6 - O uso de chupetas também está associado a maior chance de candidíase oral (sapinho) e verminoses, já que é quase impossível manter uma chupeta com higiene adequada.
7 - Na confecção de bicos e chupetas temos o uso de materiais possivelmente carcinogênicos (N-nitrosaminas) que ainda carecem de estudos mais aprofundados.
8 - Com relação à morte súbita, a mesma é definida como uma morte inesperada de crianças menores de 1 ano de idade, com pico entre 2 e 3 meses, que permanece inexplicada após extensa investigação, incluindo história clínica, necropsia completa e revisão do local do óbito. Portanto é uma situação em que até o momento não sabemos qual é a verdadeira causa. Existem muitas críticas sobre as metodologias utilizadas nestes estudos, o que enfraqueceria em muito e tornaria no mínimo precoce a argumentação de que a chupeta seria um possível protetor da morte súbita. Apesar de ser uma indicação oficial da AAP, esta opinião não é compartilhada por importantes órgãos como o MS (Ministério da Saúde do Brasil – área técnica da criança e do aleitamento materno), OMS, UNICEF, WABA (ONG internacional que promove a semana mundial da amamentação) e IBFAN (Rede Mundial que luta pelas leis que normatizam a propaganda de alimentos que podem prejudicar a instalação e manutenção do AM), que entendem ser necessária a realização de mais estudos sobre este assunto controverso.
9 - Por fim, vale destacar que um estudo de revisão, multidisciplinar, publicado no Jornal de Pediatria em 2009, buscou na literatura prós e contras o uso de chupeta e chegou à conclusão final de que foram encontrados mais efeitos deletérios do que benéficos.

Desta forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os pais tenham claramente esta visão de “prós e contras” do uso da chupeta, para que, junto ao seu pediatra, possam tomar uma decisão informada quanto a oferecê-la, ou não, aos seus bebês.
Bibliografia
1. Hauck FR, Omojokun OO, Siadaty MS. Do pacifiers reduce the risk of sudden infantdeath syndrome? A meta-analysis. Pediatrics. 2005;116(5). Disponível em: www.pediatrics.org/cgi/content/full/116/5/e716.
2. American Academy of Pediatrics Task Force on Sudden Infant Death Syndrome. The changing concept of sudden infant death syndrome: diagnostic coding shifts, controversies regarding the sleeping environment, and new variables to consider in reducing risk. Pediatrics. 2005;116(5):1245-55.
3. Li DK, Willinger M, Petitti DB, Odouli R, Liu L, Hoffman HJ. Use of a dummy (pacifier) during sleep and risk of sudden infant death syndrome (SIDS): population based casecontrol study. BMJ. 2006;332(7532):18-22.
4. Cates CJ. Dummies and SIDS. Low response rates generate considerable uncertainty. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1336812/?tool=pubmed.
5. Fleming PJ. Dummies and SIDS. Causality has not been established. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1336811/?tool=pubmed
6. American Academy of Pediatrics, Policy Statement. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics. 2012;129:e827-e841.
7. Castilho SD, Rocha MA. Pacifier habit: history and multidisciplinary vision. J Pediatr (Rio J). 2009;85(6):480-9.
8. Menino AP, Sakima PRT, Santiago LB, Lamounier JA. Atividade muscular em diferentes métodos de alimentação do recém-nascido e sua influência no desenvolvimento da face. Rev Med Minas Gerais. 2009; 19(4 Supl 5):S11-S18.
9. World Health Organization/Unicef. Innocenti Declaration on the protection, promotion and support of breast-feeding. Meeting “Breastfeeding in the 1990s: a global initiative”. Cosponsored by the United States Agency for International Development Authority (SIDA), held at the Spedale degli Innocenti, Florence, Italy, on 30 July – 1 August, 1990.
10. World Health Organization. Evidence for the Ten Steps to Successful Breastfeeding. Division of Child Healtha and Developmentworld. Geneva: World Health Organization, 1998.
11. Lamounier JA. Promoção e incentivo ao aleitamento materno: Iniciativa Hospital Amigo da Criança. J Pediatr (Rio J). 1996;72(6):363-7.
12. Victora CG, Tomasi E, Olinto MTA, Barros FC. Use of pacifiers and breastfeeding duration. Lancet. 1993;341:404-6.
13. Victora CG, Behague DP, Barros FC, Olinto MTA, Weiderpass E. Pacifier use and short breastfeeding duration: cause, consequence, or coincidence? Pediatrics. 1997;99(3):445-53.
14. Tomasi E, Victora CG, Olinto MTA. Padrões e determinantes do uso de chupeta em crianças. J Pediatr (Rio J). 1994;7(3):167-73.
15. Barros FC, Victora CG, Tonioli Filho S, Tomasi E, Weiderpass E. Use of pacifiers is associated with decreased breast-feeding duration. Pediatrics. 1995;95(4):497-9.
16. Barros FC, Victora CG, Morris SS, Halpern R, Horta BL, Tomasi E. Breastfeeding, pacifier use and infant development at 12 months of age: a birth cohort study in Brazil. Paediatr Perinat Epidemiol. 1997;11(4):441-50.
17. Pedroso RS, Siqueira RV. Pesquisa de cistos de protozoários, larvas e ovos de helmintos em chupetas. J Pediatr (Rio J). 1997;73(1):21-5.